domingo, 26 de abril de 2009

Lembranças...


Eu me lembro dos meus primeiros dias de aula logo que mudei de escola; acordava cedo, como ainda não havia uniforme, ficava pensando em qual roupa usar, se haveria algum conhecido com quem conversar, cruzava os dedos para que houvesse mais meninas que meninos, e contava os minutos para que chegasse logo, para que passasse logo o trauma do primeiro dia de aula, pois depois saberia que logo tudo ai se normalizar.

Eu me lembro das noites anteriores as partidas de finais de campeonato em que eu disputava. A insônia batia, a dificuldade de se concentrar, saberia que toda escola estaria naquele local observando, que depois de duas horas que o juiz apitasse, eu poderia sair como um vencedor ou como perdedor; sair de cabeça erguida ou abaixada; com um grande sorriso pronto pra comemorar a vitoria, ou apenas ir pra casa e relembrar os erros em que cometemos durante este tempo. Depois de um tempo fui perceber que as minhas melhores partidas ocorriam fora do meu estado, pois não tinha meus pais para me observar, nem aquela paquera pra dizer se jogou bem, era eu e a comissão técnica. Não havia cobrança. Mas aprendi que a maior cobrança vinha de mim mesmo.

Eu me lembro do meu primeiro beijo na segunda serie. Uma amiga tinha me chamado para sua casa afirmando que teria uma festa. Mentira! Só havia eu e ela e seus pais haviam viajado. Dentro de mim havia aquele anseio por descobrir logo o gosto daquela boca, como seria o tal do salada mista tão falado. Depois que fechei os olhos, logo depois do primeiro, tudo se normalizou. Agradeço por ter sido desta maneira, mas devo afirmar que também fiquei nervoso. Passava pela minha cabeça se depois daquilo tudo haveria uma outra tarde que nem aquela, mal sabia que aquilo ali era como os acontecimentos da minha vida. Sofria por antecipação.

Eu me recordo também dos dias que tinha de fazer provas; do nervosismo de querer tirar uma nota alta; de ouvir felicitações dos meus pais; ficar logo de férias; Época engraçada essa, porque eu mal dormia e acordava de madrugada ainda. Chegava na hora da prova, estava com sono, nervoso, diga-se de passagem, que eu ainda guardava o lugar de uma amiga inteligente, pois só o fato dela se encontrar ali na minha frente, já me passava confiança, lógico havia alguém que poderia me socorrer, em qualquer questão de duvidas.

Lembro da minha primeira briga: do nervosismo de saber quem ia dar o primeiro soco, da raiva que eu sentia, e também aquela mesma cobrança de não decepcionar as pessoas por qual eu estava ali. Nunca fui de arranjar confusão. As pessoas acabavam me colocando nela. Existe em um espírito protetor, pois bem, eu queria proteger, torcia pra que eu saísse ileso e não voltasse com nenhum machucado sério, pois saberia que ia ser bem pior. Infelizmente aconteceu uma vez. Se quer saber, foi a melhor. Aprendi muito com isso e digo, certas vezes, que um soco vale mais que mil palavras.

Lembro de tantos acontecimentos e passo a enxergar que estes mesmos fatos que mais me incomodava, acabaram passando. Percebi que tudo era questão de tempo, e apenas restaram as lembranças. Vejo também, que não mudei muito, que ainda guardo meus medos e meus anseios. A insegurança ainda faz parte da minha vida, por mais que hoje ela esteja escondida pelo orgulho, afinal meu melhor amigo é meu travesseiro: só ele sabe o que realmente se passa ou realmente quem sou. Tenho certeza que meu quarto é o lugar onde mais me sinto seguro. Nas ruas não, há perigo, se você não parecer forte, torna-se vulnerável, e não gosto de me sentir assim, por isso toda essa ansiedade me atrapalhava tanto na minha vida. Isso trouxe conseqüências: tornei-me um fumante. Quando você traga um cigarro, você faz o movimento de inspirar e respirar por diversas vezes. É o mesmo movimento que um médico manda fazermos quando nos consultamos. Isso nos relaxa, mas também vicia. A pior desculpa foi quando eu dizia que só fumava quando eu bebia. Ocorre que eu fiquei de férias, bebi quase todo dia, tornei-me um fumante de carteirinha, na verdade, de carteira.

Hoje penso que se fosse menos ansioso, mais relaxado ou se me cobrasse menos, talvez poderia saborear mais os meus dias. Por um lado foi bom: vejo que tenho um certo lado perfeccionista ou talvez não, apenas não gosto de decepcionar os outros. Por mim, estaria sempre correspondendo a todas as expectativas, seria cem por cento.

Agora, neste momento, bate uma ansiedade, um nervosismo que logo depois que der um clique no mouse, tudo que escrevi, vai se tornar público. Várias pessoas têm comentado sobre o que eu escrevo. No fundo no fundo, isso me faz bem, eleva meu ego, ao mesmo tempo me cobro mais, forço meus pensamentos, tento explorar o Máximo da minha criatividade. Reflito que se eu não apertar, vou estar me contradizendo, pois, como afirmei, tudo o que me preocupei, virou passado, e sei que amanhã novas postagens virão e este desabafo sobre meus medos virarão passado. Fumo um cigarro, lembro de uma piada super sem graça que meu pai me contou, ele sempre disse que tudo na vida é passageiro, menos o cobrador e o motorista. Tudo vai virar lembranças.

Em sumo, de que adiantaram as preocupações?

Nada. Sofrer por antecipação é uma merda. Todos deveríamos sofrer depois de lutar, suar por ter sido derrotado, sofrer depois que a nota chegasse, depois que o dente batesse na boca da menina, sofrer depois de saber que aqueles amigos dos quais se preocupavam, talvez nem lembre seu nome no futuro. Afinal, não somos nós que diremos quando sofrer e sim a vida. Antecipar isso é idiotice. Acredite, eu fui um.

                                                                                                                                 Ritter

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